segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

O BRASIL BATEU NO MURO DO LUCRO PELO LUCRO

O BRASIL BATEU NO MURO DO LUCRO PELO LUCRO

À noite, antes de pegar no sono, eu tenho o hábito de ouvir baixinho alguma rádio ou alguma matéria publicada no You Tube, já que o meu rádio de cabeceira é conectado à internet. Naquela noite, eu sintonizei o vídeo (só áudio) em que três importantes filósofos da atualidade brasileira, Leandro Karnal, Luiz Felipe Pondé e Mário Sérgio Cortella estavam no programa Roda Viva, e debatiam no âmbito da filosofia, temas de profunda significância.
Chamou-me a atenção a intervenção do Karnal que, ao analisar a realidade política brasileira ponderou que os governos Fernando Henrique, Lula e Dilma são os responsáveis diretos pela situação socioeconômica em que se encontra o povo brasileiro, já que os três cometeram um equívoco básico nos seus conceitos de governabilidade. Em todos os casos o brasileiro foi olhado como consumidor, e não como cidadão, em um modelo econômico de pouca consistência em se tratando de auto sustentabilidade, uma vez que somente os fatores ligados à economia eram levados em conta nos projetos de governo, como se tudo se resolvesse com a ideia de ter, possuir, disputar e conseguir. Esse ambiente de consumismo exacerbadamente incentivado, gerou sonhos de consumo que o brasileiro não consegue mais satisfazer. O cidadão aprendeu que ter dois carros, celulares com acesso à internet para toda a família inclusive crianças, consumir refrigerantes e sucos industrializados diariamente, pedir pizza pelo telefone no jantar, usar roupas de marca, viajar de avião, era tudo conquista dos governos “economicistas” de FHC, Lula e Dilma. Esqueceram de olhar o povo, não somente como consumidor, mas como cidadão, daquele que tem consciência dos limites do consumo e da necessidade de organizar a vida financeira dentro dos limites do seu próprio poder aquisitivo. Para isso, teria que haver uma evolução cultural e educacional para que o povo adquirisse a capacidade de conviver com a nova realidade sem se endividar além dos limites ou sem adquirir coisas além do necessário, numa forma de consumo consciente.
Não cuidou o governo de controlar com mãos de ferro a escandalosa exploração dos bancos e cartões de crédito contra os cidadãos que pagam até hoje, cerca 450% ao ano pelo dinheiro que utiliza desses estabelecimentos que nada produzem e nada acrescentam ao bolo econômico.
O endividamento ainda foi incentivado com o tal “empréstimo consignado”, um absurdo contra pensionistas e aposentados com o desconto obrigatório das parcelas em seus salários, tendo como principais vítimas os idosos, que sem capacidade de resistência, andam pagando prestações de motos e celulares para um monte de netos e filhos folgados que querem viver vida de rico sem trabalhar. Outra barbaridade foi a desoneração de impostos que o governo Lula concedeu à indústria para incentivar o consumo sem que o estado recebesse o que lhe era de direito, o imposto.
Deu no que deu e nós estamos convivendo com uma situação de difícil controle no risco de ver tudo perdido e termos que começar de novo do zero em matéria de economia. Economia é ciência exata com regras e limites que não foram respeitados nos últimos tempos.
Segundo Freud e outros pensadores da psicanálise, a vida no mundo econômico é feita de projetos e desejos, que geram sonhos que quando realizados geram felicidade. Dizem eles que as doenças mentais e os distúrbios de comportamento, são resultados de sonhos não realizados, já que uma vez gerado o desejo do consumo de algum produto que nos chame a atenção, estará instalada na mente da pessoa a vontade de comprar o seu objeto de desejo. Quando este desejo não é realizado surge a frustração que gera a indignação, o sofrimento e daí as doenças como depressão, ansiedade e outras formas de neuroses que perturbam a pessoa. Tomados pela neurose, uns vão para a droga, outros vão roubar, outros se fecham no quarto, uns choram, outros viram presos ou pacientes em hospitais psiquiátricos e ainda há o chato que vive reclamando de tudo.
No sistema consumista, a desesperança irá certamente desorganizar a sociedade podendo resultar no que se viu nas últimas semanas nos presídios do Brasil, onde presos assassinam presos em massacres que chamam a atenção do mundo, por briga pelo domínio do estado paralelo que a criminalidade organiza e isso já ocorreu em inúmeros outros países onde o estado se omitiu, ou praticou políticas equivocadas. Nascem assim as mentes doentias geradas pela infelicidade do sonho não realizado.
Nós erramos ao achar que com um povo tão simples em matéria de educação e cultura, pudéssemos ser “primeiro mundo”. Não existe país evoluído com povo medíocre. Segundo Karnal na entrevista à Roda Viva, e por mais que seja antipática a comparação, Cuba resolveu a educação de seu povo em três anos, o que nós não conseguimos durante os últimos cinquenta anos.
A ciência no Brasil, deu a sua contribuição e inventou a urna eletrônica que faz do nosso sistema eleitoral um dos melhores do mundo, mas a qualidade do voto que é nela depositado é um desastre.
O certo é que o conservadorismo dessas políticas que só olham para inflação, bolsa de valores, moedas, consumo e lucro, não vai resolver os principais problemas desse povo pobre metido a rico que somos nós. Chega de falarmos somente em inflação, moeda e aumento de produção, porque chegou a hora de virarmos gente que pensa e que consegue se defender das armadilhas do capitalismo selvagem e do lucro pelo lucro, e que vai conseguir votar em políticos mais dignos.
João Lúcio Teixeira

Economista

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