quarta-feira, 27 de julho de 2016

NO CAIXÃO SÓ CABE O CORPO

Tenho permanecido a maior parte dos meus dias em São José dos Campos, por conta de alguns compromissos, mas sempre que possível volto à Caraguá, onde mantenho o meu principal domicílio, e revejo os amigos, além de deliciar-me com o clima mais quente neste período de temperaturas baixas. As cidades de praia sempre são menos frias e isso provoca a sensação de bem estar.
Como a minha vivência no litoral esteve sempre ligada a atividades políticas, tenho que dar atenção às abordagens de sempre, quando nas ruas, as pessoas me perguntam sobre temas de natureza política. Ás vezes a abordagem é inteligente, em outras não, mas faz parte da vida de quem gosta de política dar atenção a todos, mesmo que não seja candidato e nem esteja em campanha. As pessoas precisam dessa atenção e das informações que lhes possam ajudar a entender melhor o mecanismo do poder.  Um dia desses fui abordado por um cidadão que conseguiu abalar as minhas convicções com uma conversa sem pé nem cabeça, ainda mais vinda de alguém com formação superior, que teve acesso ao conhecimento acadêmico.
Ouvi o seguinte: “Você está com negócios em São José dos Campos, vai ganhar dinheiro por lá?”
Respondi que não era esse o motivo, mas alguns negócios meus que precisavam de mais atenção por ora e por isso eu permanecia mais tempo no Vale, e também porque voltei a estudar.
Insistiu ele na ideia de que eu estaria buscando ganhar dinheiro, e eu lhe respondi que Caraguá também é um bom lugar para se investir, até porque os imóveis que tenho na cidade valorizaram bastante.
Ouvi de volta a frase mais infeliz: “ Então você tem que agradecer o prefeito atual porque o seu patrimônio valorizou  em razão da gestão valorizadora do prefeito”.
E prosseguiu: “Eu não gosto do prefeito, mas tenho que tirar o chapéu para a sua capacidade de administrar”.
Olhei aquilo tudo, somei, subtrai, multipliquei e depois dividi, engoli seco e me despedi. Ficou sem resposta e não sei se notou o meu desconforto.
Esta é a tônica do capitalista puro, movido a patrimônio e dinheiro, sem outras preocupações. Esse tipo só entende a linguagem do lucro, não se importando se o lucro é justo, é legal, é social, coletivo ou individual.
Só se interessa em fazer crescer o seu patrimônio particular, e isso, pra eles, é sinônimo de sucesso perante os demais cidadãos, numa apologia perene ao “ter mais”, “poder mais”,  e sentir-se importante por isso.
Dostoiévski
“As coisas mais insignificantes têm, às vezes, maior importância e é geralmente por elas que a gente se perde.”
Eu que sempre busquei estudar a ciência política, me ocupei de tentar entender, Maquiavel, Freud, Dostoiévski, Rousseau com a sua obra mais importante, “O contrato social”, tive que ouvir alguém dizer que o bom gestor público é quem faz valorizar o patrimônio particular das pessoas.
O mundo evoluído se orienta politicamente através de indicadores como o IDH- Índice de Desenvolvimento Humano, que mede o quanto cada pessoa evoluiu como pessoa, o quanto teve acesso ao conhecimento, à ciência, à tecnologia, para se ilustrar enquanto gente e aprender a dirigir a sua vida dentro dos fundamentos da consciência coletiva. O quanto cada indivíduo evoluiu no seu conteúdo social, tem que ser mais importante do que o quanto valorizou o patrimônio da cada um. Isso eles não aceitam e chamam a preocupação com o coletivo de idiotice.
Se o coletivo fosse mais importante, a escola pública seria melhor do que a escola particular, a segurança pública seria suficiente, a saúde pública não exigiria que os cidadãos comprassem convênios particulares, e os ricos não teriam o que fazer com as suas riquezas a não ser esnobar os pobres. De que valeria o dinheiro se o poder público fizesse o que prometem, as leis, as regras de convivência social e as promessas políticas de épocas de eleição?
Como se aproxima o tempo de elegermos prefeitos e vereadores, resolvi escrever esta matéria para deixar evidente que se o voto for direcionado a candidato que possa realizar melhor a satisfação das necessidades coletivas e não o desejo particular dos capitalistas ortodoxos, o homem vai se libertar dessa promiscuidade intelectualizada que se caracteriza na fome de ter patrimônio para resolver os problemas que deveriam ser resolvidos pelo poder público. Pra que dinheiro se a escola pública fosse boa? Pra que dinheiro se se a saúde pública fosse suficiente?  Pra que dinheiro se não fosse necessário contratar seguros caros para proteger o que o poder público protegeria se fosse eficiente?
Não se pode afirmar que a riqueza seja ruim, mas há de se ponderar que ela deva ser considerada importante somente depois que os outros valores forem colocados à sua frente, e o coletivo se tornarletivo foa ser considerada depois que se os outros valores forem colocado na frente e o coletivo for mais importante do q mais importante do que o privado.
Alguns velhos casais que formaram grandes patrimônios não conseguem conviver com a ideia de morrer e deixar tudo por ai, e por isso sofrem com o medo da morte. No caixão só cabe o corpo.
João Lúcio Teixeira
Jornalista- MTB- 83.284




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