Hoje, 17 de fevereiro de 2016 o ex-presidente Lula seria
ouvido pelo ministério público federal, em inquérito que apura possíveis crimes
na aquisição de apartamento tríplex no Guarujá e sítio em zona rural de Atibaia.
Entretanto, por força de decisão do conselho superior do ministério público, a oitiva de
Lula e de sua mulher Marisa, foi suspensa e foram anulados todos os atos
praticados até então pelo promotor do caso, sob alegação de irregularidades de
natureza técnica no inquérito. Um dos principais equívocos alegados é o de que
o promotor não poderia convocar os acusados diretamente, mas teria de
encaminhar a convocação para o setor de distribuição que é utilizado
normalmente para todos os casos investigados, não cabendo exceção só por se
tratar de réus famosos.
O fato, para quem olha de fora, com olhos menos
perfunctórios, pode não ser bem esse, já que militantes políticos pró Lula e
pessoas que são contra o Lula, organizaram protestos em frente ao edifício onde
seriam ouvidos os réus, e hoje pela manhã já havia bandeiras vermelhas de
diversas agremiações e muitos militantes do MST, PCdoB, e outros, estavam
posicionados no local dispostos a defenderem os seus ideais.
Ontem a imprensa especialmente o rádio, alertava para a
possibilidade de conflitos entre esses grupos e, certamente, a justiça pode ter
levado em conta tal risco para suspender os atos.
Quem conhece de perto as formas de atuação dos movimentos
tidos como de esquerda, sabe que qualquer ato mais forte contra o atual sistema
de poder instituído pelo voto direto no Brasil, vai ser contraposto por
movimentos organizados, de centro esquerda e de esquerda que esperaram muito
tempo para chegarem com seus representantes ao poder e certamente não vão entregá-lo
de volta à direita assim tão facilmente. Nesses movimentos há um anseio que não
se enxerga facilmente, mas que existe, o de se estabelecer no Brasil um governo
socialista, mesmo sem os antigos ingredientes do socialismo ortodoxo da Rússia,
Albânia ou Cuba, mas que tenha por finalidade a igualdade social. Os governantes
do PT trazem no seu DNA , o gene dessa tendência e isso todo mundo sabe, porque
o Lula não fala em socialismo abertamente, mas é ele o grande instrumento da
luta pela igualdade de oportunidades para todos, e mostrou isso quando governou
o país com os programas sociais, luz para todos, cotas sociais e raciais nas
universidades, fome zero, minha casa minha vida, cisternas rurais para acumular
agua de chuva, e muitos outros programas menos lembrados agora.
Quem achar, inocentemente, que os movimentos de esquerda são
apenas bagunça de rua, pode estar redondamente enganado porque existem centros
de formação e de debates que cuidam de difundir os pensamentos que dão
sustentação aos ideais políticos populares.
Algumas experiências estão sendo levadas a efeito na América
Latina, como na Venezuela, Chile, Uruguai, Bolívia e Equador, os casos mais
destacados, e encontram grandes dificuldades, por conta dos conflitos de
interesses que essas mudanças costumam causar. Quem está se dando bem no atual modelo, não
concorda com mudanças enquanto quem está mal quer mudar a situação. A grosso
modo pode se dizer que é a luta entre o capital e o trabalho, em que o
capitalista acha que quem tem dinheiro manda, enquanto que o trabalhador acha
que sem os eu trabalho não há produção e que, portanto, deve ser ouvido nas
decisões que atinjam os seus interesses. O trabalho vem vencendo a luta no
Brasil já que nos últimos tempos o salário cresceu mais do que os preços e o
consumo tornou-se possível para os pobres.
No Brasil, o Lula teve muita habilidade ao implantar os seus
programas sem gerar conflitos, diferente da Venezuela que afronta os ricos e
gera ódio, e conseguiu, no Brasil, agradar ao menos favorecido sem, contudo,
desagradar aos mais favorecidos que viam nos novos emergentes que saiam da
pobreza, novos consumidores para o seu produto. Com o Lula parecia que os dois
lados estavam satisfeitos já que o empresário cresceu e o pobre deixou o mundo
da miséria absoluta.
Agora, o debate ideológico vem à tona com essa história de
apuração de possíveis atos praticados pelo ex-presidente, numa volúpia que pode
estar sendo incentivada pelos movimentos filosóficos de direita que ainda não
aceitam a ideia de igualdade.
O importante de tudo isso, é o fato de que o brasileiro pode
estar voltando a pensar politicamente, o que pode nos levar a ser um povo
esclarecido e capaz de escolher entre um e outro movimento qual o que mais lhe
poderá fazer feliz.
O importante é que se faça o debate de ideias livremente,
sem os arrochos do capitalismo americano que financiou a maldita intervenção
militar de 1964, para sufocar os ideias sociais, e sem os excessos do
socialismo ortodoxo Russo que prejudica a liberdade pessoal e torna o estado
uma máquina monstruosa que não deu certo por lá. O meio termo, com liberdade pessoal
e igualdade social é o ideal ainda que as diferenças continuem existindo de
forma menos danosa e menos desumana.
Os dois grupos pró e contra o Lula que estavam se
posicionando em frente ao fórum onde seriam ouvidos os Réus, mostram a síntese
desse argumento que não se trata de guerra física, mas de confronte de ideais
que já existe no mundo e também no Brasil desde o início do século XX, por
volta de 1900, quando se instalaram os primeiros movimentos sociais no Brasil,
muito especialmente com a criação das ligas camponesas do nordeste, da cana e
do açúcar. Parafraseando o Chico Xavier, é bom saber que a tolerância em
relação às diferenças de pensamento, de classe, de raça, de credo e de outras
vertentes, é fundamental para a paz no mundo, devendo sempre prevalecer para o
interesse público, a decisão da maioria, sem que sejam massacradas as minorias.
João Lúcio Teixeira
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