O mecanismo da política é
extremamente sinuoso e tem em certos pontos, que devem ser interpretados sem paixões e
sem tendenciosidade. A Dilma foi uma escolha pessoal do Lula para sucedê-lo na
presidência da república do Brasil, exatamente pelo seu perfil de personalidade
forte, determinada e incisiva, mas o que não estava visível era o seu grau de
flexibilidade para conviver com as intempéries comuns no cenário do poder
público. Lá, dois mais dois nem sempre somam quatro, porque há que se fazer
descontos e acréscimos nem sempre previstos na teoria. O Lula conviveu bem com
essas diversidades, administrou o Brasil com relativa tranquilidade nos oito
anos que esteve à frente do governo federal, tendo sido competente para lidar
com as vaidades e os interesses que compõem o universo político.
Lula conseguiu avançar nas lutas
que eram prioritárias como o combate à miséria, redução da pobreza, luz para
todos, universidade para todos, minha casa minha vida, bolsa família, sem criar
dificuldades aos interesses daqueles que poderiam dificultar a sua caminhada de
cunho socialista, sem, contundo, exagerar nas doses. Não se pode negar que ele
avançou bastante e o Brasil deixou de ser um país tão miserável.
A Dilma mostra um perfil bem mais
à esquerda e tentou imprimir ao seu governo uma tendência meio Bolivariana que
o povo brasileiro não está preparado para assimilar, e isso fez de sua
trajetória um jogo complicado em que está levando muito mais gols do que
fazendo. Há uma perda enorme da capacidade de realização do governo e o
desgaste é evidente por conta da falta de sensibilidade e da excessiva audácia
ideológica.
Dá pra ver que no Brasil, as
grandes mudanças nem sempre se viabilizam porque o povo tem medo do
desconhecido que já causou traumas com aquela revolução maluca de 1964. Agora o
brasileiro prefere ser mais conservador e quem desejar implementar mudanças tem
que ter calma, inteligência e muita sabedoria.
O Lula tem falado em forçar a
saída da direção nacional do PT e ocupar os espaços com gente menos
radicalizada, que possa contribuir com a permanência do partido no poder e
permitir um avanço ideológico mais manso e que consiga apoios suficientes, sem
grandes desgastes.
O possível recuo tático pode ser
uma forma de não se perder a oportunidade dos avanços no campo da cidadania e
da construção de uma democracia plena com povo capaz e governo adequadamente
idealista no sentido mais amplo da palavra.
A Dilma pode ter tentado impor um
ritmo acelerado e perdeu-se na segunda curva do percurso sinuoso, estreito e
acidentado que é a política brasileira.
Ser socialista ou ser
capitalista, aos olhos do povo pouco importa se houver oportunidade de vida
digna para todos. A denominação de esquerda ou de direita não será importante
aos olhos do povo.
Vista a dificuldade encontrada
pela Dilma para implementar em todo o país uma mudança radical, e em ritmo
acelerado, melhor imaginarmos a possibilidade de se implementar uma espécie de
socialismo municipalista antes de querer mudar toda essa parafernália que se
chama Brasil. Começar pelas cidades seria bem mais fácil e nada impede que uma
cidade tenha o seu plano econômico que vise a incluir os munícipes nas discussões
em que se debatam a geração de emprego e a distribuição justa da renda, a
redução da pobreza municipal, e o combate à miséria local.
A gente fica discutindo o Brasil
e não enxerga a situação da nossa vizinhança. Aqui, a nossa vista alcança
e quem sabe o poder seja menos complicado. O Brasil começa na nossa casa.
João Lúcio Teixeira
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