terça-feira, 19 de maio de 2015

VAMOS COMEÇAR PELA NOSSA CIDADE?

O mecanismo da política é extremamente sinuoso e tem em certos pontos, que devem ser interpretados sem paixões e sem tendenciosidade. A Dilma foi uma escolha pessoal do Lula para sucedê-lo na presidência da república do Brasil, exatamente pelo seu perfil de personalidade forte, determinada e incisiva, mas o que não estava visível era o seu grau de flexibilidade para conviver com as intempéries comuns no cenário do poder público. Lá, dois mais dois nem sempre somam quatro, porque há que se fazer descontos e acréscimos nem sempre previstos na teoria. O Lula conviveu bem com essas diversidades, administrou o Brasil com relativa tranquilidade nos oito anos que esteve à frente do governo federal, tendo sido competente para lidar com as vaidades e os interesses que compõem o universo político.
Lula conseguiu avançar nas lutas que eram prioritárias como o combate à miséria, redução da pobreza, luz para todos, universidade para todos, minha casa minha vida, bolsa família, sem criar dificuldades aos interesses daqueles que poderiam dificultar a sua caminhada de cunho socialista, sem, contundo, exagerar nas doses. Não se pode negar que ele avançou bastante e o Brasil deixou de ser um país tão miserável.
A Dilma mostra um perfil bem mais à esquerda e tentou imprimir ao seu governo uma tendência meio Bolivariana que o povo brasileiro não está preparado para assimilar, e isso fez de sua trajetória um jogo complicado em que está levando muito mais gols do que fazendo. Há uma perda enorme da capacidade de realização do governo e o desgaste é evidente por conta da falta de sensibilidade e da excessiva audácia ideológica.
Dá pra ver que no Brasil, as grandes mudanças nem sempre se viabilizam porque o povo tem medo do desconhecido que já causou traumas com aquela revolução maluca de 1964. Agora o brasileiro prefere ser mais conservador e quem desejar implementar mudanças tem que ter calma, inteligência e muita sabedoria.
O Lula tem falado em forçar a saída da direção nacional do PT e ocupar os espaços com gente menos radicalizada, que possa contribuir com a permanência do partido no poder e permitir um avanço ideológico mais manso e que consiga apoios suficientes, sem grandes desgastes.
O possível recuo tático pode ser uma forma de não se perder a oportunidade dos avanços no campo da cidadania e da construção de uma democracia plena com povo capaz e governo adequadamente idealista no sentido mais amplo da palavra.
A Dilma pode ter tentado impor um ritmo acelerado e perdeu-se na segunda curva do percurso sinuoso, estreito e acidentado que é a política brasileira.
Ser socialista ou ser capitalista, aos olhos do povo pouco importa se houver oportunidade de vida digna para todos. A denominação de esquerda ou de direita não será importante aos olhos do povo.
Vista a dificuldade encontrada pela Dilma para implementar em todo o país uma mudança radical, e em ritmo acelerado, melhor imaginarmos a possibilidade de se implementar uma espécie de socialismo municipalista antes de querer mudar toda essa parafernália que se chama Brasil. Começar pelas cidades seria bem mais fácil e nada impede que uma cidade tenha o seu plano econômico que vise a incluir os munícipes nas discussões em que se debatam a geração de emprego e a distribuição justa da renda, a redução da pobreza municipal, e o combate à miséria local.


A gente fica discutindo o Brasil e não enxerga a situação da nossa vizinhança. Aqui, a nossa vista alcança e quem sabe o poder seja menos complicado. O Brasil começa na nossa casa.
João Lúcio Teixeira

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