As manifestações populares de 15
de março de 2015, mostram que o sistema político brasileiro esgotou-se e há
grandes riscos de o povo cair em uma crise de desesperança pela falta de
alternativa. Na situação não há confiança, e as oposições não existem, ou pelo
menos não têm porte que lhes permitam visibilidade. Os partidos políticos são
evitados e as organizações esparsas de outros ideais não convencem. A crise
existencial do espírito coletivo pode gerar vocações perigosas como as de
natureza religiosa, ou criminosa, que costumam aproveitar a falta de rumo da
sociedade para cooptar pessoas e torná-las bitoladas, pela falta de rumo do
poder público.
O principal núcleo de resistência
é o estado de São Paulo, que conseguiu mobilizar cerda de metade do volume de
pessoas que foram às ruas. Um milhão de pessoas em São Paulo em um total que
pode aproximar-se de dois milhões em todo o Brasil.
Há quem entenda que seja a classe
média a que mais tem sentido a indignação contra o governo federal culpado pela
possível aproximação entre as classes B e C, seja pelo crescimento da C ou pelo
empobrecimento da B. O fato é que no estado mais importante da União, o povo
está mais bravo. Estranha-se porque o PT, partido que governa o país, nasceu em
São Paulo, tem suas raízes no ABC paulista e daqui saiu para o Brasil. Minas
Gerais não votou no Aécio para presidente, mostrando-se descontente com o
governo mineiro do PSDB dos últimos tempos. Lá, em 2015, a Dilma venceu as
eleições de presidente e elegeu o governador. Tudo mostra que o povo não está
satisfeito com nenhum governo, a indicar que o modelo político do “toma lá dá
cá” entre os poderes executivo e legislativo, com entrega de cargos e negócios
no âmbito da tal “governabilidade”, não agrada mais ao povo. Pode se ver que o
problema não é exatamente pessoal contra este ou aquele político, mas contra o
sistema político nacional.
A Dilma tem a oportunidade, ainda
que desgastada em São Paulo, de elaborar propostas positivas que possam ir de
encontro aos anseios populares. Corrupção deveria ser incluído na lista dos
crimes hediondos com prisão de até 30 anos sem direito a progressão de regime
de cumprimento. Ou seja, pena cumprida por completo em regime fechado. O povo
espera algo assim. Prefeitos e vereadores condenados por crime de quaisquer
espécies, ou por ato de improbidade nunca mais deveriam ser candidatos, porque
o povo não merece que bandidos retornem ao poder, nem pelo voto e nem como ocupantes
de cargo de confiança. O povo espera algo assim. Fim das reeleições de
prefeitos, governadores e presidente da república, e somente uma reeleição para
o legislativo com vereadores e deputados fora da política depois de cumprido o
segundo mandato. A variação de pessoas vai oxigenar o sistema hoje asfixiado
pelos Sarneys e Renans que nunca saem daquelas cadeiras já moldadas aos seus
bumbuns.
Fim dos financiamentos de
campanha, e abertura mais ampla dos meios de comunicação como rádio e televisão
para que as campanhas sejam feitas mais intensamente nesses veículos dando ao
tema eleições a mesma visibilidade que se deu à copa do mundo. Afinal esses
veículos são serviço público de devem ser utilizados em função do interesse
público. Conhecer os candidatos mais profundamente pode evitar enganos na hora
de votar.
O Brasil precisa deixar de ter
vergonha da política e voltar a discuti-la e vivenciá-la com mais intensidade.
Novelas e futebol, não podem ser mais importantes do que a vida política de uma
nação. O povo está bem mais preparado para escolher o melhor ator ou cantor, do
que um governante. A quem isso pode interessar?
Se a Dilma enviar algo forte e do
agrado do povo, o próprio povo vai cobrar dos deputados e senadores a aprovação
sob o som do clamor popular como foi a lei da ficha limpa. Eles morrem de medo
do povo, mas o povo ainda não descobriu isso.
O povo na rua deu à presidente
uma oportunidade de fazer o que precisa ser feito e ela tem que aproveitar o
momento, já que o povo vai cobrar dela e dos deputados e senadores, uma mudança
do jeito de olhar a atividade política no Brasil.
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