Eu adoraria ter estudado sociologia, para entender o que
querem os eleitores quando no reservado e silencioso ambiente das urnas. Freud
disse em certo momento: “Nos meus trinta anos estudando a alma da mulher, uma
pergunta ficou sem resposta: o que quer uma mulher?”
Ele quis dizer que a mulher é capaz de cumprir qualquer papel
em defesa da sua prole, e conseguiria fingir-se feliz até que chegasse o momento
exato de ser ela mesma. A mulher segundo Freud, consegue fingir o tempo todo se
isso servir para levar seus filhos até um porto seguro. Ela raciocina sempre a
favor da sua coletividade.
O eleitor brasileiro está numa dessas fases, que faz dele uma
verdadeira incógnita, um cofre secreto em cuja alma ninguém consegue penetrar.
A cidade de Caraguatatuba tinha várias opções de votos em
deputados estaduais que poderiam, se eleitos, defender interesses da região,
mas os seus eleitores votaram em quase 600 candidatos diferentes, nestas
eleições de 2014, e na sua quase totalidade eram candidatos desconhecidos na
cidade. É um amigo que pede para votar em alguém de fora, é uma propaganda de
TV, ou outro instrumento motivador que acaba desviando o foco.
A cidade de Caraguá teve cerca de 58 mil votos válidos, sendo
que somente cerca de 25 mil foram confiados aos candidatos regionais. Isso
mostra que o senso de coletividade não tem sido importante na escolha do
candidato e cada eleitor faz o que acha conveniente para agradar a um amigo ou
parente ao invés de lançar um olhar endereçado ao interesse da coletividade
onde vive.
Não que se deva patrulhar o voto que é individual e livre,
mas o que se quer é entender o sentido exato da eleição direta que tem como
finalidade escolher os representantes das populações.
Ai, a pergunta: Será que aquele candidato de uma cidade bem
distante vai ser o legitimo representante da coletividade moradora do litoral?
Será que aquela pessoa que pediu o voto vai agradecê-lo pelo
menos?
É possível que o novo contato só ocorra nas próximas eleições
daqui a quatro anos, quando o deputado tentar a reeleição.
O voto do Tiririca, ou do Russomano que tiveram mais de
quatro mil votos cada um em Caraguatatuba, foram votos desnecessários porque
são deputados que se elegeriam de qualquer modo, mesmo que os eleitores de
Caraguatatuba não votassem neles. Os 33 mil votos que foram exportados,
poderiam eleger alguém daqui da região sem nenhum prejuízo aos grandes
conquistadores de voto. Os votos do Tiririca têm explicação e não são votos tão
banais como alguns acham. Quem votou nele, escolheu, em tese, entre correr o
risco de votar em um possível corrupto ou votar em um palhaço. Optaram, a meu
ver, pelo palhaço que pode causar menos danos do que o corrupto. Claro que nem
todos os candidatos eram corruptos, mas estava difícil separar o joio do trigo.
Na dúvida, o eleitor votou no palhaço, que frequentou a câmara dos deputados
sem faltas, aprendeu a ler e escrever, e fez o trivial. Melhor do que alguns
políticos que não, fazem nada, não tinham nada e hoje são ricos à custa da
desonestidade pública.
Freud se estivesse vivo, ficaria pirado ao tentar entender o
voto livre do povo brasileiro, e quem sabe acabaria em algum manicômio.
O lado positivo de tudo isso é que existe a liberdade do
voto, existe um sistema eleitoral invejável, talvez o melhor do mundo, e
existem eleições para que a gente vá treinando e aprendendo, aprendendo e
treinando até que consigamos eleger vereadores e prefeitos de boa qualidade, depois
deputados senadores e outros mais.
O Brasil ainda está melhor do que muitos países onde as
eleições são manipuladas, ou nem há eleições para escolha dos mandatários.
Eu dei a minha contribuição nestas eleições, fui candidato,
sabia que era difícil ser eleito nas condições que me impus, mas consegui dois
mil votos, não paguei um centavo por eles, e não arrisquei o meu patrimônio num
jogo anti-democrático que tem o seu lado maravilhoso. É uma delícia encontrar
pessoas na rua que dizem votei em você, minha família toda votou e nos
orgulhamos de termos contribuído com a reconstrução da democracia e do voto
pelo ideal. E ainda ouço: Por favor não pare, por ai, volte a ser candidato que
nós votaremos de novo em você.
Ai eu invocaria Freud e ele responderia que no fim do túnel há
uma pequena luz que indica que, pode demorar, mas a alma do eleitor será lavada
um dia desses e haverá uma grande passeata do povo nas ruas festejando a real
vitória da democracia.
A partir de então, a inversão de valores vai ser resolvida.
Ao invés do candidato escolher o povo de quem vai “conquistar” o voto, o povo é
que escolherá os seus políticos, sem favores pessoais e nem propinas.
Depois de tudo isso, Freud terá alta do manicômio e vai viver
feliz para sempre, como diz a minha neta Bia de cinco anos no final das histórias
que ela inventa e me conta. Começa com “era uma vez” e termina com ”felizes
para sempre”. Bela inocência!
Sonhar a gente pode e é de graça.
João Lúcio
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