Robson Marinho, é uma das figuras
importantes do sistema político gerado no entorno da sigla PSDB, cuja história
política tem nuances de beleza, mas que está sendo coroada pela acusação de
corrupção e enriquecimento ilegal.
Robson, foi eleito prefeito em
São José dos Campos aos 37 anos em 1982, tendo como vice o Professor Hélio
Augusto de Souza, uma figura respeitada que trazia na testa o carimbo de
cidadão social, preocupado com o desenvolvimento do ser humano. A presença do
Hélio, do meu amigo Hélio Augusto, que à época presenteou-me com o livro de
autoria de Dom Evaristo Arns, intitulado “Brasil nunca mais”, dava à
candidatura do Robson a prefeito, um ar de seriedade. À época eu fui candidato
a vereador e obtive votação expressiva que me deixou na segunda suplência da
enorme bancada de vereadores eleita pela legenda do MDB. A bancada era de
respeito com pessoas como Fernando Delgado, Nadin Rahal, Dr. Escada, Luiz Paulo
Costa, João Bosco, Tereza Degáspere, primeira mulher a ser eleita vereadora na
cidade, e assim eu acabei assumindo em diversas ocasiões a cadeira de vereador
naquela legislatura de 1982 a 1988.
Convivi estreitamente com o
Robson que usava como bandeira de campanha o slogan “Honestidade e luta”. Não
se imaginava que mais tarde pudesse ele ser acusado de corrupção e
enriquecimento ilegal no exercício de cargo público. A nossa proposta era
acabar com a corrupção que à época já era preocupação nacional.
O Professor Hélio faleceu no
quarto ano de governo de Robson, vitimado por um câncer no abdome que o
transformou em uma triste figura que na última vez que o visitei estava quase
inerte numa cadeira de varanda, e dormia e acordava enquanto falávamos. Tinha
alguns lampejos de lucidez e outros de sonolência dopado por remédios fortes.
Faleceu dias depois sob os cuidados do Dr. Othon Ferreira Maldos, simpatizante
da nossa luta, médico muito querido que ainda atua em São José dos Campos como gastrologista.
A morte prematura de Hélio pode
ter alterado a caminhada do Robson que, muito audacioso, assim como o Aécio,
conseguiu galgar postos importantes na hierarquia do MDB de Quércia, Montoro, Ulisses,
Almino Afonso, Mário Covas, Severo Gomes, e outros. Robson teve como padrinho
de casamento ninguém menos que o patriarca Ulisses Guimarães, estreitou laços
com Montoro e Mário Covas, assim tornou-se chefe da casa civil do Mário Covas,
que substituiu Montoro no governo de São Paulo. Foi ali que tudo aconteceu,
segundo as publicações da imprensa em geral extraídas de dados do processo que
apura o desvio de milhões de dólares na negociação sobre a construção do metrô paulistano.
As acusações mostram um patrimônio excessivamente alto para os padrões
salariais de Robson em todos os cargos que ocupou. Ilha particular em Angra,
casas milionárias em Ubatuba, Morumbi, e muito mais, em dinheiro fora do país.
Robson vem há décadas exercendo o cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas de
São Paulo e tem como principal atribuição julgar as contas e contratos de todos
os poderes públicos estaduais. Contas de prefeitos, presidentes de câmaras e de
todas as instituições que operam recursos públicos no estado. É cargo
vitalício, que permite aposentadoria integral de bom salário. A justiça acaba
de determinar o afastamento de Robson do cargo de conselheiro do TCE, por
entender que o processo a que responde não lhe permite seguir julgando as
contas de outros políticos.
Ouvido pela imprensa, ele insiste
em dizer que que não fez nada errado, mas a justiça, movida pelo ministério
público estadual que está subordinado ao governo do PSDB, seu partido, não
acredita e nem aceita as suas ponderações e joga pesado em relação ao acusado.
Em princípio, ninguém pode ser
considerado culpado antes do julgamento final das acusações, mas há casos em
que a justiça aplica antecipadamente a pena por cautela. Robson, aquele que foi
meu líder político há 32 anos, está em grandes dificuldades e pode ser um dos
casos de punição que dá ao brasileiro a esperança de que o Brasil tem jeito.
Robson pode ser uma vítima da
falta de vigilância do próprio sistema político que deveria ter sido melhor
vigiado pelos deputados estaduais da época. Se os deputados estaduais
estivessem atentos na sua missão de fiscais do poder executivo, certamente não levaríamos
32 anos para descobrir os abusos praticados na compra de um metrô que é muito
importante para a vida do paulistano, mas que poderia ter custado muito menos
do que custou aos cofres públicos. Temos que eleger deputados que queiram
ajudar o Brasil a ser menos vitimado. Em 1983 Robson prefeito teve comigo um
atrito porque eu, na qualidade de vereador não aceitei votar a favor de verbas
para o time de futebol profissional da cidade. Tivemos um bate-boca que não é
segredo, mas eu não me deixei vergar pelo poder do prefeito e o projeto foi
retirado da pauta. Seguimos amigos até que o destino nos separou pela própria
evolução do amigo Robson que ocupou cargos mais altos e de difícil acesso.
Eu sigo no mesmo caminho político
dos que não conseguem conviver pacificamente com as mazelas do poder, mas estou
feliz por não ter que, aos 70 anos, responder processos de tamanha gravidade.
Talvez eu não resistisse uma vergonha desse porte.
Resolvi ser candidato a deputado
estadual justamente para fazer o que os deputados à época não fizeram e nem
fazem até hoje.
Quero, ser um fiscal do governo,
sem ser oposição e nem situação, mas independente e eficiente no mister de
fazer novas leis e fiscalizar os atos e contratos públicos para que sejam
sempre praticados na conformidade da lei e da moralidade.
Uma pena que o meu parceiro dos
velhos tempos tenha se perdido pelo caminho. Ele poderia ser uma das grandes
figuras da história política brasileira, porque tinha todas as qualidades
necessárias, como carisma, inteligência e poder de convencimento. Uma pessoa
que poderia ser um grande ídolo e pode acabar como um vilão da moderna história
política brasileira. Será verdade que o poder corrompe?
Os que me achavam idiota por
querer ver o fim da corrupção podem estar me dando razão mesmo que o
reconhecimento possa ser tardio. O Brasil precisa livrar-se da corrupção assim
como do tráfico de drogas. São duas pragas nacionais que impedem o país de
respirar e de desenvolver na sua própria democracia conquistada com muito
sacrifício.
João Lúcio Teixeira
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